Mini-Case de Perícia Odontológica:

Este é um caso fictício, inspirado em situações reais que analiso como perito e como assistente técnico, com o objetivo de mostrar como pequenos detalhes podem transformar um atendimento comum em um processo judicial complexo.

O caso

Carla, 34 anos, chegou ao consultório com dor ao mastigar e relato de apertamento noturno. O cirurgião-dentista diagnosticou bruxismo e indicou uma placa oclusal rígida. Até aqui, tudo correto. O problema começou no que não foi documentado.

O prontuário trazia apenas: “Paciente relata dor. Bruxismo. Feita placa.”
Nenhuma foto inicial. Nenhuma radiografia. Nenhum registro do grau de desgaste. Nenhum consentimento assinado.
Nenhuma anotação de retorno.

Três meses depois, Carla voltou reclamando de aumento de dor, fratura no dente 26 e dificuldade de usar a placa. Sentindo-se insegura, procurou outro profissional, que sugeriu negligência e recomendou buscar um advogado.

A perícia

Quando o caso chegou ao Judiciário, o ponto central não era se o dentista errou clinicamente — mas sim se conseguia provar que conduziu o caso de forma adequada. O desgaste pré-existente? Não havia fotos. A instrução sobre uso da placa? Não documentada. A quebra do dente teria relação com o bruxismo ou com falha técnica? Sem exames prévios, a perícia ficou limitada.

Na ausência de documentos, prevaleceu o princípio da verossimilhança do relato da paciente. O profissional não conseguiu demonstrar acompanhamento, orientações ou monitoramento da evolução. O laudo pericial apontou inconsistência documental e nexo possível entre a ausência de controle e a piora do quadro.

A lição para o dentista

A maior causa de condenações não é o erro técnico — é a falta de provas. Se tivesse fotos iniciais, análise oclusal, registros de desgaste, termo de consentimento e anotações regulares, o desfecho poderia ter sido completamente diferente.

Mensagem final

Casos de bruxismo e DTM são, por natureza, evolutivos. Se você não documenta hoje, amanhã será impossível demonstrar que conduziu tudo corretamente.

Perícia odontológica começa no consultório — e o perito só enxerga aquilo que você registrou.